quarta-feira, 1 de julho de 2009

Coletivo Caimbé leva oficina de texto para escola pública

Ontem nós, do Coletivo Arteliteratura Caimbé, voltamos a agir com intervenções públicas, desta vez em escolas da rede estadual.

O amigo Tana Halu ministrou oficina de contação de histórias na Escola Estadual Oswaldo Cruz, no Centro de Boa Vista, e eu ministrei uma outra de produção de textos na Escola Maria dos Prazeres Mota, no bairro Santa Tereza, periferia da cidade.

Foram momentos agradabilíssimos de discussão sobre a magia das palavras e o impacto delas na nossa vida como pessoas cidadãs. Aliás, o tema da minha oficina foi: Construindo a cidadania através das palavras.

O público da Oficina de Produção de Textos foi composto por alunos do primeiro ano do Ensino Médio. O objetivo foi fornecer subsídios teóricos e práticos sobre como produzir um texto de forma elegante e atraente para o leitor.

O trabalho foi feito de forma lúdica, finalizando com um exercício no qual os participantes elaboraram um texto contando a sua história. Mais uma vez ficou comprovado que, quando estimulados, os jovens são capazes de produzir peças textuais interessantíssimas.

É o caso, por exemplo, da aluna Luar Galvão, que aos 14 anos se descobriu grávida, mas não se deixou a bater pelas dificuldades. Hoje, aos 15 anos, ela é uma jovem mãe feliz e consciente da responsabilidade que é criar uma filha. Vamos ao seu texto:

“Mãe aos 14 anos

Falar de mim é difícil, pois enxergar os nossos próprios defeitos é complicado. Meu nome é Luar e vou falar um pouco da minha vida.
Quando eu tinha 14 anos, tive uma descoberta que não me confortou. Descobri que estava grávida e isso fez com que eu amadurecesse um pouco.
Não é nada fácil você engravidar na adolescência, sem completar os estudos, sem emprego, casa, enfim, sem estabilidade na vida. É muito difícil, pois você pensa que [a gravidez] irá atrapalhar a sua vida e que ninguém irá te apoiar. Pensa que irão te julgar, te deixar para trás... Mas, na realidade, para minha sorte, foi tudo ao contrário do que eu pensei.
Graças a Deus, posso dizer que sou uma menina de sorte. Hoje estudo e procuro ser uma pessoa madura. Ter um filho, na verdade não atrapalha, muda a nossa vida.
Hoje tenho 15 anos e sou muito feliz, pois essa gravidez fez com que eu crescesse não em tamanho, mas sim em mente.
Se no início foi desconfortável, hoje eu aprendo cada dia e hora que passo ao lado da minha filha. Aprendo coisas novas e me sinto uma pessoa vitoriosa, pois não perdi nada. Ao contrário, considero que ganhei.”
(Luar Galvão, 15 anos, aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Maria dos Prazeres Mota)

Um outro texto bastante interessante é o da menina Mágida. Ela dá uma aula de auto-estima a todos nós. Vamos a ele:

“A história do meu nome e a sociedade

Me chamo Mágida, tenho 15 anos. Eu gosto muito do meu nome. Minha mãe decidiu por esse nome em mim para homenagear sua melhor amiga de escola: Mágida Azulay. Na sociedade, meu nome faz o maior sucesso, pois a maioria das pessoas o acha bonito, apesar de muitas pessoas bagunçarem, caçoarem e criticarem o meu nome. Mas para mim isso não importa. O que realmente é importante para mim é que eu gosto dele.
Muitas pessoas não gostam do seu nome porque o acham feio ou desagradável. Mas minha opinião sobre isso é que se nós mesmos não gostarmos do nosso nome, quem gostará?
Tem muita gente que às vezes tentam me chatear por causa do meu nome e não conseguem, pois penso da seguinte forma: eu é que tenho que gostar do meu nome, pois a opinião negativa de alguém para mim não tem valor.
Amo o meu nome e agradeço aos meus pais por ter me dado um nome tão bonito. O melhor é que é muito difícil encontrar na sociedade uma xará (alguém com o mesmo nome).”
(Mágida, 15 anos, aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Maria dos Prazeres Mota)
O texto do jovem Nailson me fez lembrar um pouco da minha infância e adolescência, quando me dividia entre o estudo e o trabalho como ourives na joalheria de amigos da minha família. Eis o relato de Nailson:

“Um jovem joalheiro

Meu nome é Nailson. Nasci na cidade de Santarém, Estado do Pará, no ano de 1994. Minha mãe escolheu esse nome para mim porque achou bonito e interessante.
Meu dia-a-dia é bem legal, pois faço natação e sou o guitarrista da banda da minha igreja há um ano. Gosto muito de tocar. Aliás, é uma das coisas que mais gosto de fazer, quando estou em casa. Mas quando tem tarefa, faço primeiro para depois tocar. Minha família é um pouco humilde e todos são evangélicos. Pela manhã trabalho na joalheria do meu tio. Estou aprendendo a fazer várias coisas. Eu pretendo terminar meus estudos e cada dia saber mais e mais.” (Nailson Silva, 15 anos, aluno do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Maria dos Prazeres Mota)

E assim, com o texto do estudante Nailson, concluo este post. Ainda tenho vários outros textos para postar. E a meninada da Escola Maria dos Prazeres Mota está na expectativa de ver os trabalhos publicados aqui no blog.

Bom, ficou claro que com um pouco de incentivo a garotada pode ir muito longe no que diz respeito à produção de texto, não é. Tudo é uma questão de estímulo de fazê-los se sentirem capaz de transpor suas ideais para o papel ou a tela do computador. É um trabalho que vale muito a pena.

Darei seqüência à publicação dos textos em breve. Até logo.

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